Pressão Seletiva
Por : Joao Carlos Holland de Barcellos

Acredito que o conceito de "Pressão Seletiva" ( PS ) é um dos mais importantes, quiçá o mais importante, do neodarwinismo. A pressão seletiva é o termo designado para relacionar o papel do meio ambiente na seleção dos genes de uma população. Assim, dependendo de qual for o ambiente onde os organismos estão interagindo, através da selação natural, alguns genes terão maior chances de sobreviver - serem passados a geração seguinte - que outros. Essa influência ambiental, que causa este desbalanceamento ou desigualdade nas chances de sobrevivência dos vários alelos que disputam um locus no genoma, dá-se o nome de pressão seletiva.

A pressão seletiva representa , portanto, um conjunto particular de características do ambiente que filtra determinados genes "direcionando" a evolução de determinadas características para a adaptação a este ambiente. A pressão seletiva é o fator externo, o fator ambiental do mecanismo da seleção natural.

Em termos neodarwinianos uma característica, e seus gene(s) associado(s), é considerada "explicada", do ponto de vista científico, quando se consegue identificar a pressão seletiva que a favoreceu. Assim, quando queremos uma explicação científica da razão de determinadas características fenotípicas, encontradas em uma dada população, é suficiente encontrar a pressão seletiva que a originou , isto é , mostrar como o ambiente poderia favorecer , em termos de perpetuação genética, os portadores destes genes.

Eu costumo visualizar a PS como uma "mão" moldando uma massa de barro. A "mão" seria a natureza e a massa de barro o "pool" genético. A "mão" faz uma constante e leve pressão na massa de barro que, em conseqüência, vai se contorcendo e se deformando, - cedendo a esta pressão - por fim, acaba tomando um formato determinado por ela.

Um exemplo simples poderá ilustrar este conceito. Alguns animais apresentam, entre os dedos das suas patas, uma membrana. É natural que perguntemos : qual foi a "pressão seletiva" que teria levado estes animais a desenvolverem esta peculiar característica? Para responder isto devemos notar que estes animais vivem em um ambiente aquático, então, existirá uma pressão seletiva que favorecerá todas as mutações que agilizem o deslocamento na água. Membranas entre os dedos é uma das maneiras de o animal poder se deslocar com mais agilidade, ou mais rapidamente, neste ambiente e, portanto, os que possuíam esta característica tiveram uma vantagem seletiva sobre os que não a possuíam.

Se o ambiente mudar então a pressão seletiva poderá agir em sentido diferente. As baleias são um bom exemplo disso. Os seres terrestres vieram do mar, onde se supõe a vida tenha se originado. Houve uma pressão seletiva para o surgimento de orgãos de locomoção, como patas, já que estes que facilitariam a locomoção no ambiente terrestre. Mas a baleia era um ser terrestre que voltou ao mar. Lá, no mar, as patas não eram mais necessárias e por isso se atrofiaram. Hoje é possível encontrar nos esqueletos da baleia, no local de suas atuais barbatanas, os vestígios de suas antigas, e outrora úteis, patas.

Este exemplo da baleia também ilustra uma outra importante lei da genética : "Se uma dada pressão seletiva deixa de atuar, então, as características que evoluíram por causa desta pressão seletiva tenderão a se degenerar". Isto explica, por exemplo, porque perdemos os pelos de nossos corpos , porque os peixes das cavernas são cegos etc... Isso ocorre porque as mutações aleatórias, que vão ocorrendo em todo genoma, também atingem os genes que transmitiam a característica e, como as mutações, na maioria das vezes, tendem a deformar uma característica ao invés de aperfeiçoa-la, a tendência é que este fenótipo associado acabe sendo degenerado pelas mutações. Mas como , por hipótese, a característica já não é mais necessária então estes genes, que favoreciam a característica, deixam de sofrer a ação da seleção natural e podem permanecer no "pool" genético,' sem prejuízo aos seus portadores.

 

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